É possível mudar para um tempo novo
com velhas práticas?
Cada vez mais se fala em mudar. Mudar de paradigma, mudar de dimensão, mudar de hábitos, mudar de procedimentos, mudar a sociedade, mudar, mudar, mudar. Temos quase a sensação de que é preciso mudar quase tudo para construir um mundo novo. O nosso inconsciente coletivo sabe disto e no entanto as resistências aos processos de mudança são inúmeros. O medo de enfrentar o desconhecido atrapalha-nos, atrasa-nos, prende-nos e não nos deixa atravessar essa porta para a mudança.
É preciso lutar contra a corrupção e o que se faz? – mantemo-nos impávidos e serenos perante o aliciamento de egos e umbigos, ficamos impávidos e serenos perante o enriquecimento ilícito. É preciso arranjar emprego para um familiar, o que se faz? – procura-se o tráfico de influências.
É preciso garantir a manipulação do “poderzinho”, o que se faz? – aliciam-se as pessoas a jogar o perigoso jogo do “escolhes o teu umbigo - o sonho da tua vida – ou o ideário partidário na falência?” É preciso ganhar eleições dentro dos partidos, o que se faz? – alteram-se atas de reuniões e pagam-se quotas para garantir o voto em determinada lista.
É preciso mudar de rumo e de paradigma, o que se faz o político? – fazem-se desaparecer militantes das listas para controlar o adversário. É preciso dar sinais de mudança dentro dos partidos, o que se faz? – deixa-se claro que - “se não alinhares comigo …acontece-te o mesmo que à pessoa beltrano ou sicrano”.
Pergunto-me como é que eu posso mudar alguma coisa no mundo dizendo que “eu sendo nova e melhor dos que os outros”, porque os “outros” - os utilizam métodos e técnicas vis para a manipulação do “poderzinho” - esses é que são maus! E no entanto no primeiro virar de esquina não me coíbo de negociar votos para atingir o sonho da minha vida, não me coíbo de utilizar os mesmos métodos e técnicas, velhas e caducas que os, supostamente, “maus” sempre utilizaram. Pergunto-me, como é que posso ser melhor do que os outros? Ao fazer o mesmo que “maus” fazem, não serei tão “mau” quanto os meus “inimigos” que tento combater? Como é que posso combater o meu “inimigo” dizendo que ele utiliza más armas se eu utilizo as mesmas armas que ele? Será possível mudar alguma coisa por dentro e renovar consciências a partir de dentro?
Nas aulas de doutoramento em Ciência Política, que me encontro a frequentar, professores e alunos são unanimes – “os partidos têm os dias contados”. Podem durar 3, 5, 10 ou até 20 anos. Mas uma coisa é certa, este modelo está na falência. A minha convicção pessoal é a de que ou os partidos mudam por dentro ou eles deixam de fazer sentido, pois cada vez há menos identificação entre os partidos e o mundo real. Também não creio que estejamos perante uma crise de ideologias, muito pelo contrário, creio que estamos perante processos de mudança das próprias ideologias, o que é normal pois as ideologias também evoluem! Pergunto-me, será possível mudar os partidos por dentro utilizando as “velhas técnicas” de manipulação?
Em Portugal, mais do que nunca, está em causa o modelo de representatividade. Queremos viver numa democracia representativa? Queremos viver num sistema de governo semipresidencialista onde o peso da responsabilidade sobre a tomada de decisão política é jogada ao estilo ping-pong entre o Governo e Presidente da República? É assim que queremos viver? Quer continuar a não ter voz sobre a escolha dos representantes, deixando essa tarefa nas mãos de outros?
Caro(a) leitor(a), pense nisto. Ouse pensar por si, ouse arriscar, ouse não alinhar com aquilo que é o politicamente correto. Ouse ser construtor da sua própria vida, pois quando fizer isso, está não só a mudar o seu mundo interior, mas também o mundo à sua volta!
Nota do OLHÃO LIVRE:
O texto acima, é da autoria de Antonieta Guerreiro e foi publicado num jornal regional. A autora foi deputada pelo PSD na anterior legislatura e sabe bem do que fala. Quaisquer semelhanças com a situação dos principais partidos em Olhão, os PS e PSD, é pura coincidencia.
Estando em curso um acto eleitoral para a concelhia socialista recomendamos aos militantes daquele partido uma reflexão profunda sobre o assunto.
Para os lados do PSD, a situação é muito semelhante. Luís Leal se tem aspirações politicas tem de correr primeiro com o bando de Alberto Almeida.
Olhão precisa de uma oposição forte, que em conjunto com a população defina o modelo de desenvolvimento económico, social e ambiental, com desprendimento pelo exercício do Poder, e capaz de assumir as promessas eleitorais como um contrato que em caso de incumprimento se demita. Não se trata de uma mudança de pessoas, mas de estilos e politicas.
Vamos à luta!
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Vejo-me obrigado a discordar da Antonieta (pessoa que conheço e por quem tenho muita estima) quando diz que os partidos têm os dias contados.
ResponderEliminarFoi a ausência de partidos que condenou todas as tentativas de regimes democráticos até à revolução francesa.
Os partidos em Portugal funcionam bem, considerando aquilo a que se propõem. O problema é exatamente essas pretensões. Eu não concordo com a organização dos partidos nem a forma como interagem internamente, mas isso sou eu que tenha uma posição desviante.
A única forma de mudar um partido é fazendo-o de dentro. Advogar a extinção dos partidos é insanidade. As pessoas em Portugal assimilaram o preconceito de que estar num partido limita a nossa visão e opinião, quando acontece precisamente o contrário.
É o contacto com as várias opiniões dentro de um grupo de pessoas com os mesmos valores (pelo menos num estádio superior) que nos leva a criar novas e mais sólidas opiniões e perspetivas.
A extinção dos partidos é uma utopia.
Saudações a todos,
J. André Guerreiro
Caro André Guerreiro, creio ter lido mal o texto de Antonieta Guerreiro. Ela não está defendendo a extinção dos partidos. Diz é que se não o fizerem a partir de dentro são eles que se condenam. Pelo menos é essa a minha leitura.
ResponderEliminarO debate interno é quase nulo, e aqueles poucos que ousam discordar das lideranças são marginalizados.
Caro André Guerreiro, creio ter lido mal o texto de Antonieta Guerreiro. Ela não está defendendo a extinção dos partidos. Diz é que se não o fizerem a partir de dentro são eles que se condenam. Pelo menos é essa a minha leitura.
ResponderEliminarO debate interno é quase nulo, e aqueles poucos que ousam discordar das lideranças são marginalizados.
Vamos mudar o ditado "hipocrisia , demagogia e agua benta cada um serve se como quer" só mesmo para quem nao tem memória e nao conhece a autora
ResponderEliminarBoas tardes,
ResponderEliminarafinal creio ter-me expressado mal. A Antonieta de facto não defende o fim dos partidos, mas aponta isso como uma eventualidade caso estes não mudem. Isto é a tese subjacente.
A minha posição é a de discordar da sua, pois eu não creio que sejam os partidos o problema. Enquanto entidades que funcionam de baixo para cima, os partidos são muito permeáveis a mudanças e à adaptação.
Os militantes é que nem sempre estão muito interessados em participar. Mas acredito veementemente que tem poder num partido quem quer e não quem pode.
Eu sou militante do PSD há anos. Não tenho cargos, nunca integrei nenhuma lista nem representei a minha secção em nenhum evento. Estou constantemente a discordar da posição do partido em imensos temas e nem estou na mesma linha ideológica da atual direção (sendo um liberal neo-conservador, apenas estive em consonância com Marques Mendes desde Sá Carneiro).
Isto nunca me causou nenhum problema nem melindre dentro do partido. Já no que toca a política local, a coisa pouco tem que ver com a política nacional de Lisboa.
As pessoas pensam que os partidos são umas instituições que fazem uns milagres e controlam o mundo e arredores. Nada disso. Antes de mais, os partidos têm que saber eles próprios o que querem e isso apenas leva a duas formas: decidem num fim de semana e 99% dos militantes ficam de fora da decisão, ou decidem em três meses e todo o país diz que o partido não está preparado.
Os partidos não são os bichos papão que a comunicação social descreve. São pessoas de bem que acreditam nos mesmos ideias e usam esta forma de organização para agirem civicamente e contribuírem para o progresso e desenvolvimento.
Os partidos não têm mais corruptos e criminosos que a própria sociedade. Apenas têm mais visibilidade...
Cumprimentos