Nos ultimos tempos, muito se tem falado da falta de agua, muitas das vezes sem se fazer uma ponderação séria sobre o tema. Será que há mesmo falta de agua um antes uma péssima gestão da mesma?
Os niveis de pluviosidade no Algarve nunca foram muito elevados e embora hajam algum defice este ano, não seria o bastante para provocar o estado das barragens. Logo se levantaram vozes defendendo mais barragens, dessalinização da agua do mar entre outras medidas.
O consumo é feito por varios sectores, desde o consumo domestico, consumo industrial e agricultura. No caso do consumo domestico teria de ser distinguido o consumo da população residente da população flutuante, algo que ninguem quer fazer, para defender a economia. Sim porque a população flutuante chega a triplicar a população total em determinadas epocas, e com ela o consumo de agua aumenta substancialmente.
O consumo industrial pensarão muitos que se deve ás fabricas, mas os hoteis são considerados uma industria e têm muito peso no consumo de agua no periodo estival. Mas claro sobre isso não se deve falar porque em primeiro lugar está a economia.
Depois temos a agricultura, o sector que mais agua consome, como é logico. No entanto ninguem fala na destruição do pomar tradicional de sequeiro que tinha um peso significativo na agricultura algarvia. Em sua substituição, foram plantados pomares de regadio, com especies maios ou menos consumidoras. Não se diz que no passado as arvores eram plantadas de sete em sete metros e que agora as plantam em cima umas das outras.
Se plantarmos uma arvore de sete em sete metros, teremos para uma arvore quarenta e nove metros quadrados, mas se as plantarmos a uma distancia de três por quatro metros, termos uma arvore por cada doze metros quadrados, quatro vezes mais do que na agricultura tradicional, ou seja o quadruplo da necessidade de agua. Mas ninguem fala nisto por causa da economia.
Depois temos os campos de golfe, que para umas coisas fazem parte da agricultura mas para outras e de acordo com as conveniencias integram o sector turistico. E se gastam agua! Mas não se pode falar nisto por causa da economia.
No sector agricola, pode dizer-se que cada um faz o que quer do seu terreno, mas não pode ser bem assim. Foi por esse tipo de ideias que se fizeram os planos de ordenamento para evitar a anarquia em termos urbanisticos. Então porque não regular, ordenar o sector agricola? Porque não acabar com as produções intensivas ou super-intensivas? Por causa da economia!
Recentemente, o director regional de agricultura, acabou por dizer isso mesmo. E foi mais longe, dizendo que um hectare de abacateiros produzia 15 toneladas de abacate que eram vendidos a 2,20 euros o quilo. Abacate que nem é para consumo interno. Ou seja, não se produz comida para satisfação das necessidades da população mas produz-se para alimentar a ganancia do lucro, ainda que a população residente fique sem agua na torneira!
Mas temos ainda uma outra fonte e que não vem sendo aplicada que seria o aproveitamento das aguas residuais urbanas tratadas para utilização agricola. Deixavam de poluir o mar com beneficio para a agricultura.
Porque o texto vai muito longo nem falamos no aproveitamento das aguas pluviais urbanas para regas de ruas e jardins ou mesmo para fins agricolas.
Tudo em nome da economia, até ao dia em que falte nas torneiras e as pessoas comecem a reclamar perante a incapacidade de tomar decisões que beneficiem a maioria da população e não apenas os interesses economicos.
Há muitas desonestidades e coisas caricatas na gestão da água. Há vários pomares intensivos de laranjeira e abacate (que utiliza ainda mais água que os de laranjeira) que têm sido implementados nos anos recentes por todo algarve e inclusive baixo alentejo. Portanto a conversa de ajudar a gerir a água em nome do ambiente e gestão pública de um bem que devia ser de todos vai simplesmente levar a quererem por contadores de água em todo o lado. Inclusive nos furos vai ser simplesmente mais uma receita para o estado, independentemente de haver real falta de água ou não (as tarifas continuam a pagar-se mesmo em anos de cheias como lá mais a Norte do País...). Eu acho que estão a deixar isso acontecer de propósito para depois virem armados em salvadores e toda a gente ter que ter contador e pagar. Posso contar que tenho um furo que quase não tem água no Verão, porque foram instalados pomares enormes de laranjeira a uma distancia relativamente próxima que tambem utilizam agua de furo. Nunca mais consegui ter agua de jeito no Verão. Se quiser tenho que pagar um furo novo com mais de 200 metros, ou seja é impssível para mim. Entretanto esses das laranjeiras têm furos de 300 metros e gastam a água toda. Mas não tenham dúvidas que no futuro se puserem contadores nos furos eu vou ter que pagar como os outros, mesmo que o abusivo uso da água e as suas consequencias não tenham sido provocadas por mim, e mesmo tendo sido eu que mais carreguei com as consequencias (os outros podem fazer furos de 300 metros, eu infelizmente não...).
ResponderEliminarOutro aspecto caricato tem a ver com a licensa dos furos necessitar de pedir autorizaçáo aos dones de outros furos que estejam a menos de 100 metros. Ora esta autorização devia ter em conta a finalidade mas não é o caso. Sei de um Sr. agricultor que ficou impossibilitado de fazer um furo porque um ingles tem um furo ao pé que utiliza para abastecer a sua piscina e não quis dar autorização por ter medo de ficar sem água! Ou seja, os estranjeiros virem cá molhar o cú na piscina durante um ou dois meses é mais importante do que um agricultor que precisa de água para nalguns casos sobreviver.
Outra situação caricata é quererem fazer mais barragens, pois se não chove o suficiente não vale a pena e tem um grade impacto ambiental. A desalinização por osmose inversa, se fôr bem feita não me parece ser má solução, já foi experimentado com algum sucesso noutros países.
Como no turismo, acho que vão acabar por expulsar os "nativos", pois não vão ter capacidade para pagar a água. Foi o que acontece no Chile...