Na noite de ontem. foi emitida uma reportagem numa estação televisiva sobre a Ria Formosa. Disseram-se algumas coisas mas muitas foram, talvez premeditadamente, ocultadas.
Convem pois regressar um pouco ao passado para perceber melhor o que está em causa. Decorria o ano de 2008 quando estava em curso a instalação do sistema de aguas e esgotos entre a lha da Culatra e a da Armona, mas porque a empresa ganhadora do concurso não conseguia atravessa a barra da Armona nas condições propostas e porque se aproximavam as eleições autárquicas, em 2009, entendeu-se assentar no fundo da barra os canos.
É obvio que a solução encontrada contribuiu para agravar o assoreamento daquela barra e logicamente permitir a renovação das aguas da Ria Formosa, essencial à vida marinha.
Nessa altura, a então ETAR poente de Olhão, despejava na Ria milhares de metros cubicos de aguas maltratadas, juntando-se às descargas dos esgotos directos, situação que durou até 2015.
A degradação do sistema lagunar deu-se a partir do momento em que foram construídos os molhes da Barra Faro/Olhão, razão pela qual a então Junta Autonoma dos Portos do Sotavento Algarvio, tinha em regime de permanência, uma draga e batelões para manter a navegabilidade e também a renovação de aguas nas melhores condições. Ou seja, percebendo o impacto negativo da abertura da Barra Faro/Olhão, eram realizadas acções de mitigação dos danos provocados.
Extinta a JAPSA, aquelas dragagens deixaram de ser feitas com a regularidade necessária para o normal funcionamento da vida na Ria. Foi o próprio Estado o principal causador da degradação da Ria Formosa.
Mas já em 2008 começavam a desenvolver a ostreicultura de forma intensiva sem haver qualquer preocupação com as suas consequências.
Nesse ano, foi criada a Sociedade Polis da Ria Formosa, e sob a sua batuta, com o apoio de algumas entidades publicas, foi publicado um livro intitulado de Forward, que apara além de branquear a poluição na Ria Formosa, visava estabelecer a capacidade de carga da produção de bivalves, estimando-a em 120 unidades por metro quadrado, estudo feito apenas e apenas com a ameijoa, como se essa fosse a principal causa da mortandade daquele bivalve.
A ostra introduzida na Ria é uma espécie exótica que até o anterior ministro do ambiente dizia ponderar a sua proibição, mas outros valores po(n)derosos se alevantavam.
Lançado o Plano para a Aquicultura em Aguas de Transição (PAQAT), no qual participámos mas que nunca nos foi dito como tinham sido incorporadas as nossas observação, apesar de nela termos referido a natureza exótica da espécie, da competitividade entre espécies e da falta de um estudo sobre a capacidade de carga de produção dela, nada disso foi tido em conta.
Na competição entre espécies, normalmente sucumbem as mais frageis. Se tivermos em conta que a ostra consome bastante mais alimento e oxigénio do que a ameijoa, é com naturalidade que a produção mista ou combinada associada ao aumento do numero de viveiros de ostra provoque o desequilibrio, sucumbindo a ameijoa.
Por outro lado, a Ria Formosa tem outros problemas bastante graves como a presença da Caulerpa Prolifera, uma alga infestante e invasora, denunciada publicamente há mais de seis anos mas que quem a plantou imediatamente negou. Ainda assim passado algum tempo, os mesmo responsaveis admitiam que a presença da Caulerpa já estava a levar ao desaparecimento do Lingueirão.
Passados alguns meses sobre a mortandade de bivalves que afectam a Ria Formosa sem que não haja uma explicação plausivel para a mesma, atribuindo a mesma a outros factores como as alterações climaticas, é no minimo absurdo para quem está atento. É que as alterações climáticas aqui nesta zona estão a ser encaradas como mais uma oportunidade de negócio mas que deixamos para outra ocasião para o denunciar.
Portanto, para nós, a primeira questão prende-se desde logo com a necessidade de voltar ao velho sistema da JAPSA, procedendo a dragagens com regularidade, nos canais de navegação e nas barras naturais, desde o Ludo até Cacela.
A segunda, prende-se pela proibição de produção da ostra giga, permitindo a produção da ostra portuguesa e mesmo assim em obediência ao estudo prévio da capacidade de carga para a sua produção, criando uma zona para a sua produção sem haver misturas com a produção de ameijoa.
Devemos também lembrar que em toda a frente ribeirinha de Olhão está localizada a zona de Produção Olhão 3 que por ora está interdita, mas na qual vão ser criadas três praias. Significa isso que a agua tem qualidade para banho humano mas não tem qualidade para a produção de ameijoa. Mas onde é que isto chegou?
Para quando um plano de erradicação da Caulerpa? Nunca porque isso faz parte do negócio!
Cabe aos produtores de ameijoa lutarem se quiserem ter algum futuro!
Sempre quero ver o que dizem os que estão sempre a dizer que deixem a Ria Formosa em paz.
ResponderEliminarAfinal sempre era preciso lutar pela sua defesa.