A Ria Formosa, é um espaço lagunar, ou seja um enorme lago com ligações ao oceano, as chamadas barras e está sujeita às oscilações das marés.
A renovação de aguas é feita através do movimento de enchimento e vazamento das marés. Quando vaza, a agua sai mas quando enche, entra. Em principio é assim, mas parece que há algo que não corre bem.
Segundo a publicação do IPMA de ontem onde se dá a conhecer a situação na costa portuguesa e nas aguas interiores, ver em https://api.ipma.pt/public-data/snmb_bulletins/972019-ci_snmb-26_08_2019.pdf, toda a costa algarvia, está interdita devido à presença de biotoxinas.
Mas para nossa surpresa, nas aguas interiores, sujeitas às oscilações das marés, parece que as aguas da costa só entram nalguns sítios ou então são criadas barreiras para que as aguas não circulem nos canais e esteiros da Ria Formosa.
Faro 1 está interdita enquanto Faro 2 está aberta; Olhão 1 está aberto mas Olhão 2 está interdita; Olhão 3 não tem analises mas mantém-se interdita por desclassificação; Olhão 4 está aberta e Olhão 5 interdita; Fuzeta e Tavira interditas e Cacela sem analises.
Olhão 2 está junto à barra da Armona enquanto Olhão 1 se situa em Marim, ou seja a maré enchente tem de passar primeiro por Olhão 2 ou pela Fuzeta, ambas interditas. Que raio de filtro é usado para impedir a passagem das aguas contaminadas? Quanto às restante zonas, a situação é semelhante, o que nos leva a pensar que estamos perante toxinas saltitonas, que saltam por cima de zonas para se inserirem noutras.
Muito conveniente este tipo de decisões, mas também muito pouco preceptivel, já que permite que os bivalves sejam apanhados na mesma, bastando dizer que pertencem a uma zona aberta.
As zonas de produção foram desclassificadas por, alegadamente, porem em causa a saúde publica, mal se percebendo que face ao cenário descrito não tenham sido tomadas medidas para evitar problemas maiores.
Bem sabemos que as biotoxinas existem no meio natural, não em quantidade que justifiquem medidas precaucionistas, mas que são fortemente influenciadas pelas descargas das ETAR e de esgotos directos, ricos em fosforo e azoto contribuindo para o aumento do numero de algas potencialmente toxigenas.
Porque não dizem as autoridades qual a origem destes surtos, que são cada vez mais regulares e com maior amplitude? Será que querem acabar com as actividades económicas tradicionais na costa e rias de Portugal, lançando na miséria milhares e milhares de pessoas?
Não acontece por acaso. O mais sombrio e perigoso está escondido.
ResponderEliminarOlá, sou um leitor assíduo e gosto muito do seu trabalho. Tenho muitas duvidas em relação ás interdições que se tem visto ao longo destes últimos anos. Como é possível um bivalve como a conquilha ter toxinas e outro como o pé de burro que se encontra mesmo ao lado não ter? São coisas que não fazem sentido. Agora uma questão, nós não podemos comer carne de porco crua que contém bactérias que nos farão mal, e agora com os bivalves? Mesmo tendo toxinas, indo á frigideira não as mata? Obrigado.
ResponderEliminarAo comentador das 22:13 de 28/08:
ResponderEliminarEm primeiro lugar,as toxinas são decretadas pela presença em cada 100 gr de carne. !00 gr de carne de conquilha, de berbigão, de pé de burro, de ostras ou de ameijoa. Cada bivalve tem uma determinada capacidade de filtração, sendo que os maiores filtradores são a ostra e o mexilhão. Por outro lado, a apanha de bivalves na costa, é feita de acordo com as características de cada um deles, sendo que por isso, são apanhados em profundidades diferentes.
As biotoxinas surgem primeiro ao largo da costa para depois entrarem na Ria com as marés de enchente. Logo, em todas as barras e sempre que haja enchente as aguas contaminadas com toxinas entram, mal se percebendo porque só aparecem nalgumas zonas e noutra não:
De facto, mesmo que os bivalves sejam expostos ao calor, as toxinas não desaparecem. Em 2013 quando a Ria Formosa foi desclassificada, foi porque o berbigão que foi mandado para a industria espanhola, estava contaminado e nem a exposição ao calor impediu que estragassem as latas.
Se estivéssemos perante uma acção de prevenção da saúde publica, as interdições seriam decretadas a partir de determinados níveis de toxinas presentes na agua do mar. Fazê-lo com base na carne, é o mesmo que deixar que se faça o seu consumo e depois interditar. De notar que o tempo de vida dos bivalves fora do seu meio, é muito reduzido, nomeadamente aqueles que são apanhados com a ganchorra.
O que é estranho é ninguém dizer quais as origens da presença das toxinas na nossa costa, em que os ciclos são cada vez maiores e em maior quantidade.
Aos poucos vão matando as actividades tradicionais associadas á pesca.
Corrigir os problemas das ETAR e dos esgotos directos, isso é que não. Porquê?