sábado, 21 de setembro de 2019

OLHÃO: VEM AÍ O BIG BROTHER!

A Câmara Municipal de Olhão já contratualizou a empresa encarregue de instalar as cameras de vídeo-vigilância na cidade, uma medida anunciada à bastante tempo. O custo desta intervenção ronda os setenta e dois mil euros, IVA incluído.
Ainda que se argumente com a prevenção da criminalidade, condenável e que existe, não deixa de ser curioso que nunca tenha havido o cuidado de estabelecer a relação causa/efeito do crescimento da criminalidade, particularmente da pequena, até por ser a predominante.
A criminalidade está associada às condições de vida das pessoas, que na mingua de recursos, recorrem ao alheio. Os baixos salários, em que o cidadão mesmo trabalhando vive numa bolsa de miséria, os beneficiários de rendimento mínimo, as reformas de miséria, os desempregados, especialmente aqueles que não recebem um cêntimo do Estado, os que ainda estão em idade escolar mas que não veem qualquer saída para o futuro, e que no seu conjunto representam mais de 60% da população, são o fermento para o aumento da criminalidade.
O Big Brother olhanense não vai acabar ou reduzir a criminalidade, mas antes acentuar ainda mais aquela que já se faz sentir na periferia, nos guetos criados e onde as condições de vida são de miséria.
Para o desmantelamento da industria conserveira e da pesca não foram procuradas soluções alternativas. O Poder político tem concentrado as suas opções no sector turístico, acenando com a possibilidade de criação de postos de trabalho que para alem da sazonalidade característica ainda usa de salários miseráveis, não para satisfação da população residente mas no interesse de alguns, poucos, investidores.
No fundo, o Big Brother olhanense não visa proteger a população olhanense, embora alguma possa ser beneficiada, mas antes e tendo em conta os locais onde vais ser instalada, a protecção dos visitantes.
Com uma população de muito baixos recursos e vivendo na periferia, é com naturalidade que aqueles que se desviam da legalidade procurem nas chamadas zonas ricas, onde há dinheiro, uma forma de sustento, pouco recomendável. E é isso que o Big Brother visa acautelar.
Quem está a ver as imagens, quem poderá divulgar ou não o que visiona, não é discutido. Isso pouco importa. Se um casal de namorados se beija na rua, se dão um abraço mais ousado ou um apalpão e que pode depois servir para comentários jocosos, isso não preocupa quem toma as decisões. Aí não há que proteger as pessoas.
Atenção que as condições de vida de quem trabalha na Ria vão-se degradar muito mais no curto, médio prazo, lançando na pobreza mais uma famílias. Isso também não preocupa, embora estes se possam vir juntar à miséria dominante.
Combatem-se os efeitos de políticas erradas com muitos anos e não se combatem as causas. É por isso que precisamos de um Big Brother.

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