sexta-feira, 7 de janeiro de 2022

RIA FORMOSA COM FUTURO ESCURO

 Estamos a dias de mais um acto eleitoral e não se vislumbra  nas diversas candidaturas qualquer proposta de mitigação dos riscos associados à tão badalada alteração climática, que existe mas pouco se faz para a combater.
Importa por isso recuar no tempo e olhar para o sistema da Ria Formosa, constitudo inicialmente  por cinco ilhas e duas peninsulas. Era assim até que resolveram abrir uma barra no fundo de saco da Ria com a qual destruiram a peninsula de Cacela.
A construção das barras artificiais veio alterar todo o sistema, agravado pela construção dos esporões de Quarteira e os molhes de Vilamoura, todos eles impedindo a livre circulação das areias.
Areias essas que se movimentavam tendecialmente de poente para nascente mas que a artificialização do sistema veio alterar, acumulando-se no lado poente das infaestruturas então criadas e ao mesmo tempo criavam um defice a nascente.
No passado, a autoridade com jurisdição nos portos e barras, a Junta Autonoma dos Portos  do Sotavento Algarvio, tinha uma draga e batelões para carregar as areias em regime de permanencia, procurando manter, tanto quanto possivel, o sistema a funcionar em condições. Por essa altura a barra da Armona tinha três mil e quinhentos metros de abertura, e os barcos de pesca utilizavam-na na sua actividade. Nos dias de hoje, aquela barra no baixa-mar terá cerca de duzentos metros e não oferece condições de navegabilidade.
Aliás a barra da Armona deixou de estar classificada como tal! As barras estão todas sinalizadas com boias e esta não as tem porque perdeu essa classificação. Mais, dentro de dois ou três anos, a manter-se a tendencia, será possivel fazer a travessia de uma ilha para a outra a pé.
Tudo isto resulta da falta de investimento, o que não acontece por acaso, obedecendo a estratégias politicas muito duvidosas, com recurso a planos de ordenamento que em nome do ambiente, acabam por correr com as populações.
A ocupação humana das ilhas começou com os pescadores que ali montaram as suas barracas de colmo, onde viviam, para trabalhar nas armações de atum ou sardinha, mas aos poucos têm vindo a ser corridos. Nessa altura, ninguem mais queria viver nas ilhas.
Com o advento do turismo tudo se alterou. Começaram a surgir as casas de ferias, embora nalguns casos, fossem simples trabalhadores a construi-las, trabalhadores esses que, na nova perspectiva das entidades publicas, estão a mais e como tal seja necessario correr com eles.
Para isso, inventam-se faixas de vulnerabilidade ou situações de risco para justificar demolições, razão pela qual desinveste-se na protecção das ilhas barreira. As intervenções são cirurgicas e de fraca qualidade.
Nos dias de hoje há novas  tecnicas, sem recurso a engenharia pesada e de custos reduzidos que permitiam ver a mancha de areal das praias a crescer naturalmente.  Com trabalhos já efectuados noutros paises, foram utilizadas mangas de geotexteis que são enchidas com dragagens feitas no local, a uma distancia de 200-300 metros da linha de costa, e que visam alterar a energia das ondas, provocando a rebentação das ondas no plano da agua e empurrando as areias para a costa.
É obvio que há que ter em conta que a durabilidade das mangas vai obrigar à sua substituição de tempos a tempos (anos), até mesmo como reflexo do tipo de agitação maritima. A agitação maritima na costa da Ria Formosa não é tão agressiva quanto a costa norte do País oque permitirá uma maior eficacia desta tecnica.
Dragar a barra da Armona, levando-a a ter a mesma largura inicial, com repulsão das areias para cima da ilha à qual pertencem, permitia não só dar mais estabilidade à ilha como uma maior renovação de aguas dentro da Ria.
Abrir a barra do Lacem e fechar a actual barra de Cacela com reposição do cordão dunar da peninsula que ali existia.
A Ria Formosa precisa de investimento para defesa das suas ilhas barreira e aomesmo tempo para protecção das povoações ribeirinhas como Faro, Olhão, Fuzeta, Sª Luzia, Tavira, Cabanas e Cacela. Assim haja quem a defenda nesta campanha eleitoral!

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