domingo, 3 de maio de 2015

RIA FORMOSA: QUE FUTURO?

A Ria Formosa é um espaço lagunar, uma lagoa ligada ao mar por canais designados por barras, com uma margem terrestre e outra oceânica, ficando no meio uma imensa zona de sapal.
Até há uns anos atrás, a Ria Formosa era tida como uma maternidade de espécies piscicolas que viam nas plantas de fundo, o abrigo para a deposição dos ovos e protegê-los dos predadores. Ali se criavam os juvenis até serem capazes de procurar mares mais profundos, a costa. Na actualidade, fruto da poluição, a Ria Formosa tem vindo a perder essa caracteristica. A poluição mata a seba, como mata tudo o mais.
Na zona de sapal, produzem-se os apreciados bivalves da Ria, como a ameijoa ou a ostra, que na sua maioria se destinam à exportação. No caso da ameijoa, a produção tem vindo a diminuir drasticamente, fruto de elevada mortalidade provocada pela poluição, na qual prolifera o parasita Perkinsus Atlanticus que ataca o aparelho respiratorio da ameijoa.
Tal como nas pessoas, com a subida das temperaturas, os bivalves precisam do oxigénio para respirar mas o Perkinsus impede-o, conduzindo à morte da ameijoa.
Sendo assim, sem se combater a poluição, tanto as espécies piscicolas, algumas de maior valor económico, como os bivalves têm um futuro negro, tal como aqueles que vivem dessas actividades vão ser obrigados a abandoná-las.
Na poluição da Ria Formosa temos a considerar a contaminação por metais pesados. Se por um lado as novas industrias estão obrigadas, nalguns casos, a ter ETAR próprias antes de descarregarem os efluentes na rede de saneamento, por outro as novas tecnologias permitiram uma redução da utilização daqueles metais, o que contribuiu para a redução deste tipo de contaminação.
Uma das questões que mais se levanta, porque está associada à classificação das zonas de produção, é a contaminação por coliformes fecais e neste aspecto as ETAR ainda em serviço, não cumprem a sua função. Até mesmo a nova ETAR, cuja equipamento está previsto durar quinze anos, também não vai cumprir, apesar de estar dentro dos parâmetros previstos na Lei. É que prevê-se que a nova ETAR venha a lançar na Ria cerca de 300 coliformes por cada 100ml, pelo que a Ria jamais obterá a classificação A.
A classificação em A permitia a dispensa do recurso ás depuradoras, conferindo mais qualidade aos bivalves e a sua venda directa, com valor acrescentado.
Mas temos também a contaminação por biotoxinas. As ETAR são centros de produtores de fitoplancton potencialmente toxigeno, que em determinadas condições climáticas, dá-se a floração e degeneram em biotoxinas. É verdade que este fitoplacton existe no meio natural, mas não em quantidade para provocar uma interdição, mas é substancialmente aumentado pelo fitoplancton despejado pelas ETAR.
E como se isso não bastasse, temos ainda uma outra forma de poluição que é o enriquecimento do meio aquático com nutrientes como o fosforo e o azoto, cuja presença faz multiplicar aquele fitoplacton.
O enriquecimento do meio aquático com fosforo e azoto dá origem a um fenómeno designado por eutrofização, previsto na Lei.
Ora se a costa está classificada como zona sensível, qualquer um compreenderá, que devido à deficiente renovação das águas da Ria Formosa, esta teria obrigatoriamente de ter um nível de protecção superior e ser classificada como em risco de eutrofização. Tal classificação era da responsabilidade do INAG, agora da APA, mas as entidades publicas sabendo que uma tal classificação implicaria um nível de tratamento superior, capaz de remover o fosforo e azoto, não o fazem. Ou seja, o Estado sabe o crime que está cometendo na Ria Formosa!
Toas as espécies competem entre si na luta pela sobrevivencia, sucumbindo as mais frágeis. A maioria das algas são meras consumidoras do oxigénio dissolvido na agua, enquanto as plantas de fundo, a seba, é ao mesmo tempo consumidora quando não tem luz e produtora de oxigénio quando recebe a radiação solar que lhe permite realizar a fotosintese. Acontece que as ETAR descarregam também, em quantidades muito acima do que a Lei permite, matéria orgânica, designada por sólidos suspensos totais (SST).
Os SST turvam as águas e não permitem que a radiação solar chegue às plantas de fundo.
Então qual a melhor solução?
Em http://olhaolivre.blogspot.pt/2015/01/porque-tem-de-ser-maltratada-ria-formosa.html dávamos um bom exemplo. A reutilização das águas residuais para a agricultura, retirando da linha de costa todas as ETAR existentes, se é que queremos acabar ou reduzir a poluição marinha!
Caso contrario, a Ria Formosa, não passará de mais uma instância de veraneio!

1 comentário:

Anónimo disse...

Não é a poluição que deriva do desaguar diário de toneladas de trampa...está bem de ver. Argumenta a MAFIA que é o casario que lhe fugiu ao seu tutelar controlo, isto é, que não obteve a sua autorização, a sua legalidade, o seu beija mão e ferindo de morte o "ambiente", põe em causa a sobrevivência da Ria Formosa e o soberano interesse público que, mera coincidência, é o gang mafioso que o define. Onde está o debate sério, o confronto de argumentos para soluções de rigor e justiça para todos?