De há uns tempos para cá que não se fala de outra coisa, que não da greve dos enfermeiros, muitas vezes para desinformar ou manipular a opinião publica e atirar o odioso da situação para cima de um grupo profissional que deveria ser mais protegido. Embora saibamos que se trata de um sector muito sensível, onde qualquer forma de luta pode mexer com as emoções de quem precisa de cuidados de saúde, não podemos deixar de estar do lado de quem trabalha e quer ver reconhecido o seu trabalho.
O problema dos enfermeiros já se arrasta há muitos anos, tendo-se agravado com as medidas impostas pelo programa de ajustamento financeiro da troika. Só que esse programa já acabou, e este governo tomou posse há cerca de três anos e meio e continua tudo ou quase tudo na mesma.
Todos os anos os enfermeiros têm apresentado o seu caderno reivindicativo em vão, mas ninguém fala nisso. Do que se fala é dos salários, das horas extraordinárias, de cirurgias adiadas e de quem lidera a luta, como se a justeza da luta dependesse de quem a lidera e não das justas reivindicações.
Mais dia, menos dia, o problema do Serviço Nacional de Saúde teria de ser levantado porque é nele que residem as causas desta luta. O desinvestimento na Saúde!
O Serviço Nacional de Saúde carece de meios humanos e técnicos capazes de dar uma boa resposta a quem dele precisa. Curiosamente a amnésia apoderou-se do governo e da comunicação social que esqueceu que existem listas de espera para consultas há anos e pior ainda para cirurgias, mas já ninguém fala nisso; que os blocos operatórios podem trabalhar 24 horas por dia mas não o fazem por falta de meios; a demissão de equipas completas de especialistas; a falta de enfermeiros quando emigram aos milhares por falta de trabalho ou em alternativa sujeitos a trabalho escravo.
Seria bom que os enfermeiros não recebessem uma hora de trabalho extraordinário, porque o não fizeram, uma vez suprida a falta desses técnicos. Ficavam então com o salário!
Não há dinheiro para tanto, diz o governo! Mas houve dinheiro para pagar a divida ao FMI à custa do roubo dos salários dos trabalhadores; foi reduzido o défice à custa dos cortes nos salários e em cativações que retiram o financiamento de sectores como o da saúde; há dinheiro para "especialistas" sem experiência profissional porque têm um cartão partidário; há dinheiro para Institutos, Fundações e Observatórios que ninguém conhece mas que levam milhões; há dinheiro para assessores incompetentes porque são portadores do cartão do partido; há dinheiro para contratações, que até podem ser legais, mas de muito duvidosa moralidade, porque têm um cartão partidário; há dinheiro para projectos que não são executados mas que engordam os amigos do partido; há dinheiro quanto baste para consultorias quando há serviços públicos capazes de as fazerem em melhores condições. E até nisso a greve dos enfermeiros veio provar., já que desta vez o governo pediu um parecer ao Conselho Consultivo da PGR. Então e porque não o fazem sempre, quando se sabe que são vagões de milhões gastos nessa treta? E depois ainda há o continuo resgate à falida banca com os trabalhadores a pagar.
Mas, e ainda no campo da saúde, veja-se como o Estado manda os serviços privados, a realização dos meios complementares de diagnostico e terapêutica, quando podiam investir e dotar os Centros de Saúde desses serviços. E são milhões!
Afinal há dinheiro a rodos para gastar de forma supérflua ou inadequada mas não há dinheiro para quem trabalha!
Já quando da greve dos estivadores, o governo considerou como uma greve selvagem porque punha em causa a economia do País e mandou a policia de intervenção para intimidar os grevistas. Só que o tempo veio demonstrar que eles tinham razão e o governo foi obrigado a reconhecer a justeza da luta.
Todos nós queremos um Serviço Nacional de Saúde capaz de responder ás necessidades da população, mas não tem de ser à custa dos que lá trabalham.
Uma outra forma de manipulação é a comparação feita com os trabalhadores do mesmo sector mas no privado e que nos merece também um comentário.
A livre negociação da contratação colectiva foi uma conquista dos trabalhadores a seguir ao 25 de Abril, mas aos poucos tem vindo a ser substituída por uma Concertação Social da qual fazem parte o governo patrão e dos patrões, os representantes dos patrões, uma central sindical amarela vendida e uma outra, cuja participação legitima as negociatas celebradas entre os governos e as associações profissionais. É com o mecanismo da "concertação social", da aplicação do código do trabalho, mais a precariedade do trabalho que os patrões escravizam os seus trabalhadores.
Fazem bem os enfermeiros em luta e todos os trabalhadores, públicos e privados, deviam seguir o mesmo caminho.
Viva a justa luta dos enfermeiros!
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