No rescaldo do debate de ontem sobre a reutilização das águas residuais tratadas cabe-nos dar conta daquilo que entendemos serem os aspectos mais significativos.
Todas as entidades palestrantes, Águas do Algarve e Administração da Região Hidrográfica, mais os restantes foram unânimes na conveniencia da reutilização daquelas águas, especialmente para a agricultura, o maior consumidor da região, apontando como entraves os custos, a distancia das ETAR às zonas de produção agrícola e à falta de esclarecimento junto dos agricultores como se isso não fosse da responsabilidade de entidades como a ARH ou a Direcção Regional de Agricultura.
Para nós, que residimos na área da Ria Formosa, destacamos dois elementos: a distancia e os custos.
A distancia porque ainda não está construída a nova ETAR Faro/Olhão e portanto estarem criadas as condições para a fazerem nas zonas de produção agrícola dos dois concelhos.
Os custos pela simples razão de que o total de investimentos previstos para a rede de saneamento do Algarve, em alta, se situa na ordem dos 317 milhões conforme imagem surripiada do Relatório e Contas da Águas do Algarve 2013.
Números grandes mas que não invalidam em nada a mudança de localização das ETAR e da alteração do meio receptor. Não sendo nós jihadistas do ambiente, a verdade é que a não faz sentido transferir a poluição feita em terra para o mar como se este fosse um recurso infinito e pior ainda quando temos conhecimento dos efeitos nefastos da poluição das descargas de águas residuais urbanas na Ria Formosa em particular e na nossa costa em geral.
Porque a Águas do Algarve, uma empresa publica, tem uma visão empresarial assente nos resultados económicos e a ARH, entidade licenciadora e integrante da Agência Portuguesa do Ambiente valida a poluição dos recursos hídricos desde que tal sirva os objectivos empresariais do Estado, fazendo eco dos custos, perguntamos nós quem se pronuncia pelos prejuízos provocados por esta actividade?
A área de produção de bivalves é de 4,5 milhões de metros quadrados.
Segundo documentos do IPMA, já com alguns anos é possível ter-se uma produção de 2 a 3 Kg/m2, desde que a qualidade ecológica das águas seja boa, o que veio a ser confirmado no Quarto Relatório do FORWARD, em que sem essa qualidade é possível chegar-se ao Kg/m2.
Ou seja, se a qualidade da agua da Ria Formosa não sofresse a poluição das descargas das ETAR e dos esgotos directos era possível ter-se uma produção media anual de 9.000 toneladas, o equivalente a 90 milhões de euros só em ameijoa-boa, quando a realidade é de um oitavo desse valor, 11,250 milhões o que origina um prejuízo de 78,4 milhões.
Sendo assim, o prejuízo acumulado em cinco anos ascende a 392 milhões de euros, superior aos custos de toda a rede de saneamento do Algarve.
Poderíamos ainda acrescentar os prejuízos provocados pelas constantes interdições da apanha de bivalves na costa que têm boa parte a sua origem nas descargas das águas residuais as quais são ricas em fitoplancton potencialmente toxigeno.
Virem as entidades oficiais, a bandidagem do costume, falar em custos quando os prejuízos provocados são bem maiores, é mesmo de quem não quer resolver o problema.
Pela
REUTILIZAÇÃO DAS ÁGUAS RESIDUAIS URBANAS TRATADAS!
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