De há uns anos a esta parte que o ICES, a entidade que propõe à UE as restrições à captura da sardinha, vem tentando prejudicar a pesca da sardinha portuguesa, utilizando para isso argumentos que não visam a reposição dos stocks como dizem.
Que há escassez de sardinha ninguém põe em causa, mas também é preciso estabelecer a relação causa/efeito dessa escassez, e sobre isso pouco ou nada se tem dito.
Por outro lado, o IPMA, a entidade portuguesa que procede à monitorização, não dá a conhecer ao publico a necessária informação para uma avaliação mais correcta. Exemplo disso é a falta de publicação dos relatórios da Pelagus 2016 e das duas campanhas efectuadas em 2017.
Na zona OCN a sardinha encontrava-se distribuída principalmente ao largo da Póvoa de Varzim , perto de Aveiro e a sul da Figueira da Foz. Foram estimados nesta zona 822 milhões de indivíduos, correspondendo a 32,6 mil toneladas. A sardinha nesta zona apresentou uma estrutura de comprimentos unimodal, com moda nos 16,5 cm. Na zona OCS a sardinha encontrava-se distribuída principalmente entre Peniche e Lisboa. A estrutura dos comprimentos foi trimodal, apresentando modas nos 6,5 cm, nos 13 cm e nos 21 cm. No Algarve, a sardinha foi encontrada na zona de Lagos e Portimão e entre Faro e V. Real de Sto. António, tendo pouca expressão no Sotavento. Estimaram-se 238 milhões de indivíduos (15 mil toneladas). A moda nesta zona foi de 20 cm. Na parte espanhola do Golfo de Cádis, observou-se pouca sardinha registando-se o segundo valor mais baixo da série temporal (o mínimo foi na campanha PELAGO11) com 162 milhões de indivíduos que corresponderam a 2 mil toneladas de sardinha. As sardinhas nesta zona tinham um tamanho pequeno, apresentando só uma moda aos 10 cm.
Como se pode verificar na parte espanhola de Cadiz registou-se pouca sardinha e com um tamanho susceptivel de ser classificado como juvenil: no Sotavento algarvio também o estado do stock era baixo mas com tamanho suficiente para captura; quanto ás restantes zonas, quanto mais para norte, maior é o estado do stock e com tamanho que permite a sua captura.
A sardinha é uma espécie migratória, como tantas outras, mas não foi ainda estudada a sua rota migratória, elemento indispensável para que alguém se possa pronunciar quanto a possíveis restrições à pesca, não sendo suficiente alegar-se com a escassez. No entanto, os tamanhos encontrados nas diversas zonas, apontam para uma rota no sentido sul norte, com inicio no Golfo de Cadiz.
Também é natural que atingido o tamanho adulto, a sardinha venha a desovar durante a sua rota migratória, razão pela qual se registam espécies juvenis ao longo de toda a costa portuguesa.
Fruto da escassez, e procurando repor o stock, foram impostos defesos e outros condicionalismos à pesca da sardinha. O defeso é em regra praticado durante o período de desova, o que não impede que alguma sardinha ovada possa ser capturada, não se podendo atribuir a tal facto a causa do estado dos stocks.
Alterações climáticas, poluição, falta de sedimentos na costa e os pedradores naturais, são as reais causas da escassez de sardinha, muito mais que a pesca que vem sendo usada pelos pescadores portugueses.
As alterações climáticas podem afectar a presença de algum fitoplâncton, agravada pela falta da chegada de sedimentos vindos dos rios, impedidos pelo excesso de barragens. Quanto á poluição, devemos lembrar que o principal poluidor é o próprio Estado, mas sobre isso ninguém está disponível para falar.
Mas há um elemento que é altamente pernicioso na costa algarvia, o excesso de golfinhos que se alimentam da sardinha, cavala e carapau. Nada temos contra o golfinho, mas como em todas as espécies, quando têm uma presença tão excessiva como na costa algarvia, acaba por ter impacto nas outras espécies.
Mas temos também um outro predador, o pescador espanhol! São sete as embarcações de cerco espanholas a pescar em aguas portuguesas ao abrigo de um acordo fronteiriço que há muito deveria ter sido denunciado por parte do governo português, tal como foi proposto pela associação Olhão Pesca, ao qual a ministra do mar respondeu que haviam outras coisas que não permitiam tal denuncia.
Ora esta atitude da ministra de subserviência aos ditames espanhóis, faz com que os pescadores portugueses sejam prejudicados, até porque mal se compreenderá que no ano de 2016 e face à redução substancial do stock do lado espanhol não tivessem sido impostas restrições à pesca espanhola.
Vir, como veio a ministra ponderar suspender a pesca no norte do País durante o ano de 2018, onde o nível de abundância é maior, é prejudicar a parte portuguesa para favorecer os elevados interesses na comercialização europeia daquele tipo de peixe, nomeadamente por parte de França e Alemanha, que utilizam peixe de origem marroquina.
Ainda que desconhecidos os números relativos a 2016 e 2017, pela opacidade das instituições agora obedientes ao governo socialista, tudo aponta que o parecer dito cientifico com o qual se propõe a interdição da pesca da sardinha por um período mais largado e que vai muito para alem do ciclo de vida da espécie, não tem fundamento e menos ainda qualquer rigor, mas que serve para justificar o fim da pesca em Portugal.
Quando é que deixamos de ser uma colónia europeia e nos assumimos como um País livre e independente?