Não há muito tempo que o bastonário da Ordem dos Médicos veio a público atirar-se aos autarcas que levaram munícipes seus às terras de Fidel, para serem operados aos olhos. Entende o infeliz bastonário que os autarcas estão a fazê-lo com aproveitamento político, com vista às próximas eleições. Até é possível que seja verdade. Mas também não é menos verdade que esses cidadãos à anos na lista de espera viram os seus problemas resolvidos e de uma maneira muito mais barata. E, tomara todos os cidadãos deste país, que lhes resolvessem os problemas de uma forma tão simples.
O que o senhor bastonário, com um discurso miserável, não diz é que os médicos fazem fortuna à custa da doença, que se comportam como verdadeiros mafiosos: "ou pagas ou não és tratado". Agora, a ministra da saúde arranjou uma maneira de dar mais uns bónus aos médicos oftalmologistas: "tapem lá esses buracos das listas de espera que eu vos pago". Cedeu à chantagem da classe médica, o que já vai sendo um hábito neste país.
Os médicos tiraram os seus cursos em faculdades pagas pelo erário público, ou seja, somos nós todos a pagar, porque é com o dinheiro dos nossos impostos que se mantêm essas mesmas faculdades e os senhores médicos deveriam, isso sim, serem obrigados a prestar um serviço público de qualidade. Todo o cidadão concordará que um médico, pelo que estudou, pelo seu empenho, pela natureza do seu trabalho, deve ser bem remunerado. Mas, que só tratem de quem tem dinheiro é que não.
3 comentários:
Sou de opinião contrária ao ol, pois não penso que sejam os médicos a máfia no serviço nacional de saúde.
Não devemos misturar os excelentes profissionais que temos no Serviço Nacional de Saúde com os maus profissionais que também existem no mesmo serviço, aliás, como em todas as profissões há os excelentes, os bons os menos bons e os maus.
Na classe médica haverá médicos que se aproveitam da situação caótica da Saúde pública para ganhar clientes nos seus consultórios privados, mas a maior parte dos médicos dá o melhor que tem de si sem condições nenhumas em termos de instalações ou meios de diagnóstico. A máfia está sim, ligada ao Estado e vê-se nos contratos que faz com os privados, a maior parte deles mal negociados e favorecendo grupos seus amigos, em desfavor dos verdadeiros interesses dos doentes e do nosso erário público.
O Estado ao fechar serviços que são prioritários (caso dos inúmeros Centros de Saúde e serviços de urgência) ao não admitir especialistas para os Hospitais (o hospital de Faro tem apenas um oftalmologista no seu quadro de efectivos) é que é o responsável pelo que acontece em oftalmologia e nas outras especialidades. É também o Estado que é responsável por todas as listas de espera, que existem no SNS.
Quanto à questão de ser o Estado a suportar os custos da formação de um médico, é verdade, como é verdade para todos os cursos públicos universitários, politécnicos ou outros e isso não impede que haja profissionais a prestar um mau serviço público. Talvez por a classe médica, no sector público, não ganhar tanto como se pensa, muitos deles terem de ir fazer mais horas para o sector privado, aproveitando quem pode ou é obrigado a pagar, por um serviço que devia ser gratuito.
A sociedade chegou a um ponto tal de corporativismo que quem manda são as corporações. Já lá se foi o tempo em que se pensava nas pessoas, em que os políticos tinham o cuidado de conceder algumas benesses aos cidadãos. A corporação dos médicos é, se não a mais, uma das mais poderoas. Durante o governo de Durão Barroso houve alguém que avançou com a idéia de se construirem mais três faculdades de medicina, ao que a ordem dos médicos logo se opôs. Por outro lado, constata-se que muitas das clinicas privadas existentes são de médicos que trabalham no serviço público e de onde muitas vezes encaminham os doentes, não propriamente por causa de uma saúde melhor mas, sim, pela "vantagem". Se olharmos para Espanha, constatamos que tem um serviço público de melhor qualidade que o nosso mas também tem um serviço privado a preços muito mais acessíveis que os que são praticados em Portugal. Uma consulta de especialidade na Suiça é metade do preço de Portugal. Claro que em Portugal há médicos que tem uma atitude minimamente séria e que procuram ultrapassar algumas dificuldades, mas talvez não constituam a maioria. O post tinha como alvo o bastonário da ordem dos médicos pelas criticas à câmara de V. R. S. António. Perante a vergonha que é os nossos cidadãos deslocarem-se a Cuba, a ministra e os oftalmologistas encontraram um entendimento a troco de 30 milhões. De indisponíveis passaram rapidamente a disponíveis e não me venham dizer que este mercenarismo não é criticável. O estado é o maior responsável, é verdade, porque não estabelece regras que sirvam os interesses dos cidadãos, mas também não é menos verdade que o próprio estado não pode lutar contra os seus próprios interesses porque ele assenta nas corporações. Quem são os politicos? Licenciados em engenharia, direito, eocnomia, medicina, estas 4 corporações, as mais poderosas. Poderão argumentar que o Estado somos todos nós. É errado pensar-se assim, isso seria pensar que o estado existia para servir os cidadãos. Neste momento estamos reduzidos à insignificância, só temos direito a votar para a escolha de quem nos explora, de quem nos espezinha, de quem nos maltrata, porque de resto o povo não tem direito a voto na matéria. Na sociedade em que vivemos só temos direito a votar neles e a ficarmos calados, tudo o resto são obrigações. Numa sociedade mais justa, mais solidária, com mais direitos, aí, sim, poderíamos dizer que o estado somos todos nós. Até lá...
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