domingo, 7 de outubro de 2012

OLHÃO: A REVOLTA DOS MARISCADORESs

Tem vindo a lume noticias que dão conta da revolta dos mariscadores, particularmente os da ganchorra, impedidos de exercerem a sua actividade por culpa das constantes interdições resultantes das toxinas presentes nas águas costeiras.
As entidades oficiais não querem reconhecer parte de culpa que têm e da inercia ou incapacidade para propor medidas que evitem no futuro a ocorrência deste tipo de episódios.
Importa por isso estabelecer uma relação causa/efeito da presença das toxinas na costa portuguesa.
Aquilo que só ocasionalmente acontecia passou a ser um ciclo presente todos os anos, uns com mais ou menos intensidade que outros. Na verdade, no passado houve algumas ocorrências, nomeadamente em 1976 e em 1981 e nos últimos 20 anos tem acontecido com uma certa regularidade anual.
Uma das causas da poluição marinha encontra-se nas águas residuais urbanas, domesticas e industriais e por isso em 1991 a Comissão Europeia avançou para uma Directiva Comunitária que visava regular as condições e o destino a dar às águas residuais urbanas, impondo as Estações de Tratamento, cujo destino seria sempre o mar.
Daí, que um pouco por toda a Europa se tivesse registado a instalação de ETAR cujo grande mérito foi o de concentrar o que dantes estava disperso, as águas residuais, dando-lhe um tratamento que se julgava suficiente para evitar a poluição marinha, até porque se acreditava que devido à imensidão dos oceanos a sua capacidade de depuração era infinita.
As ETAR, contudo trouxeram um novo problema: a forte concentração de nutrientes como os compostos de fosforo e azoto, alguns metais pesados, elementos patogénicos como as cianobacterias e algumas micro algas potencialmente toxigenas.
Das algas toxigenas destacam-se duas espécies: as diatomaceas e os dinoflagelados que se dividem em variedades. São as diatomaceas que estão na origem da toxina ASP e os dinoflagelados na origem das toxinas DSP e PSP. Num pequeno à parte para chamar a atenção para as siglas das toxinas, particularmente as primeiras letras porque definem as suas consequencias: A (amnésia); D (diarreia); P (paralisante).
As ETAR funcionam como fabricas destas micro algas libertando-as no meio marinho que em determinadas condições ambientais, nomeadamente a subida da temperatura da agua, dão origem às toxinas.
O Mar Mediterraneo, com fraca capacidade de renovação de águas, temperaturas elevadas da agua e sobrecarregado de ETAR tornou-se ao mesmo tempo numa vitima da poluição e seu agente transmissor, posto que com as correntes marítimas desagua no Atlântico, chegando à costa portuguesa.
Vinte anos decorridos sobre a Directiva Comunitária e o advento das ETAR, é tempo de se fazer um balanço. Os mares continuam poluídos, apresentando-se as ETAR como um dos principais focos dessa poluição, quando o novo conhecimento nos mostra que é possível reutilizar as águas residuais urbanas depuradas na agricultura com vantagens do ponto de vista económico, social e ambiental.
O protesto dos mariscadores tem toda a razão de ser, na medida em que é o Estado a promover a poluição  transferindo-a de terra para o mar, impedindo-os de governar a vida, não lhes pagando aquilo a que têm direito.
Aos mariscadores assiste-lhes o direito à revolta.
REVOLTEM-SE, PORRA!

2 comentários:

Anónimo disse...

a situação é muito mais grave, penso que nem sonham o que vai acontecer e em especial a muitos viveiristas, ma-
riscadores e comercio de Olhão muito dependente destas actividades. Não há no Pais quem queira abrir bem os olhos.

Marceano Vasconcelos disse...

A Corrente do Golfo, a Golf Stream, que depois da Islandia volta para o Sul, de que a nossa costa ocidental sofre, arrastando cá para baixo todos os efeitos poluentes, so fre uma derivação para a costa do Algarve.(um ramal dessa Corrente) sabemos que a corrente dominante na costa do Algarve, vem de Oeste para Leste. A falta de caudais das marés nas barras da Ilha Formosa NÃO PERMITE a renovação das águas que deveriam saír...e que será insuficiente..é fraca. Mais os velhos esgotos industriais, de Faro, Olhão.. que ao longo das últimas dezenas de anos, queimaram os fundos da Ria... Mais não digo, apenas o que sei. A Ciência nacional sabe disto. mas continuam a tapar o Sol com uma peneira. E.. partem casas e habitações... interesses particulares, certamente~~ ?? As lamas.. FEDEM. !! DESTROEM OS HABITATS BIOLÓGICOS.. Eles sabem mas a puslítica lhes interessará MAIS. Bom Ano.!