Durante muitos anos, os dois núcleos de Cacela Velha, Igreja e Fabrica, eram habitados por pequenas comunidades piscatórias que desenvolviam as suas actividades na Ria Formosa na apanha de peixe e marisco e em alternativa na agricultura. Recordo esses tempos numa altura em que ainda não havia chegado a luz electrica e a agua canalizada.
A partir da década de sessenta do seculo passado, com o advento do turismo tudo mudou. Os habitantes dos dois núcleos foram, aos poucos, sendo corridos do seu habitat por condições económicas. Após o 25 de Abril, os novos ricos que tomaram conta do País, com o poder económico que detinham, acabaram por oferecer dinheiro ás pessoas para se irem embora e descaracterizaram por completo a arquitectura da Fabrica, na altura em tudo semelhante à da Igreja para construírem no seu lugar modernas casas para utilização sazonal de veraneio.
Cacela Velha nos dias de hoje terá cerca de dez habitantes permanentes pelo que deixa de ter qualquer peso politico seja a nível concelhio, regional ou nacional. Não deixa no entanto de ser uma aldeia histórica que o turismo acabará por destruir, descaracterizando-a. Cacela Velha tem um centro de arqueologia, tem a maior jazida fossilífera da Peninsula Iberica e uma das maiores do mundo.
No sitio da Igreja, tem a igreja que lhe dá o nome e tem também o Forte, uma antiga guarnição militar de defesa da costa. Tudo implantado no cimo de uma arriba de arenito, com a fragilidade que estas arribam apresentam.
Como aldeia histórica, o transito devia estar condicionado à utilização exclusiva dos residentes mas o que vi ontem foram motas e carros de veraneantes que se passeiam livremente apesar da interdição. A Câmara Municipal de Vila Real de S.º António ainda pôs um pino recolhivel mas não o aciona por falta de dinheiro, esquecendo que o largo fronteiro da Igreja e do Forte são, ou deveriam ser um espaço de liberdade onde os peões e particularmente as crianças deviam circular em segurança.
Neste sitio, as casas construídas para fins habitacionais vão dando lugar a uma utilização muito diferente daquela a que se destinavam, algo a que a autarquia devia estar atenta no momento do licenciamento, impedindo-o!
Por outro lado, a riqueza da aldeia está na sua ligação com a Ria Formosa, a quem quer dar uma nova função, destruindo tudo aquilo que era a actividade que levou à sua criação, a pesca e o marisqueio.
Mas a Ria Formosa neste ponto foi infectada com um vírus pior que o Covid. Em 2010 e por encomenda foi aberta artificialmente uma barra que fragilizou o cordão dunar da Peninsula de Cacela e que está na origem da degradação da margem terrestre, a tal arriba onde estão a Igreja e o Forte.
Só que na aldeia há uma associação de defesa do património, a ADRIP, que ao longo dos anos tudo tem feito para defender a arquitectura do edificado, da paisagem natural, dos recursos naturais. Uma luta que tem alguns frutos mas que ficam aquém dos desejados porque o Poder politico não sente o peso eleitoral de tão poucos votantes.
Como para o Poder politico as perspectivas de desenvolvimento passam única e exclusivamente pelo sector turístico, em seu nome tudo pode ser destruído, rasgando a historia e todo o património presente.
É isso que se constata na diversa correspondência trocada com as entidades publicas nacionais e europeias, como se pode ver a seguir:
E porque nunca será demais denunciar a promiscuidade dos titulares de cargos políticos com as decisões que pendem sobre a Ria Formosa, chamamos a atenção que o concessionário da Praia da Fabrica e apenas a mulher do ex-vice presidente da Câmara Municipal de Vila Real de S.º António e agora deputado no grande circo em que transformaram o parlamento nacional, José Carlos Barros.
Como é que eles se vão preocupar com a porcaria que fazem na Ria? Ou como podem eles defender o património histórico, cultural, natural, ambiental desta aldeia?
E se fossem todos dar banho ao cão não fariam melhor figura?
1 comentário:
Desgraçado cão.
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