Desde o final da semana passada que muito se tem falado da Ria Formosa e das consequencias da reclassificação das zonas de produção de bivalves, mas é mais o que se esconde do que o interesse em resolver o problema da Ria.
À pala dos bivalves da Ria Formosa existem dois grandes grupos, o dos produtores e o do cartel de compradores.
Enquanto os produtores querem uma Ria despoluída e capaz de proporcionar os níveis produtivos do passado, os compradores apenas estão interessados nos cifrões.
Os produtores, apesar de mal organizados e representados por associações colaboracionistas, têm procurado que as entidades publicas responsáveis pelos crimes ambientais cometidos na Ria, resolvam o problema da poluição, dando outro destino às águas residuais urbanas despejadas pelas ETAR. Nesta luta, nunca se viu um armazenista do cartel, vir em seu auxilio. Porquê? Aos compradores não lhes interessa que a Ria seja reclassificada em classe A, porque isso permitia o consumo directo e comercializado através centros de expedição, cujos investimentos são substancialmente inferiores aos das depuradoras, permitindo assim que pequenas associações de produtores pudessem vender os seus produtos.
Ao contrario o cartel de compradores, sabe que a manutenção da classe B, obriga os produtores a levar-lhes a ameijoa ao armazém e a sujeitar-se aos preços que lhes querem pagar. É bom lembrar que os compradores, têm também viveiros mas por razões diversas da generalidade dos produtores. É que tendo terrenos, quando lhes aparece alguém a vender a ameijoa sem factura, declaram-na como se fosse de produção própria. Acontece que nem eles conseguiam explicar a produção de tanta ameijoa, como ainda ao comprar ameijoa na candonga, correm o risco de comprar marisco da classe C, vendendo assim gato por lebre. Mais, nem as depuradoras tinham capacidade para depurar todo o marisco, e não é só a ameijoa, que lhes chega.
Todas as autoridades intervenientes neste processo sabem-no e omitem, sejam elas o IPMA ou a DRAP. Por outro lado e se não houver uma alteração da legislação comunitária, os compradores, com a desculpa de que enviam a ameijoa para outras depuradoras no espaço comunitário, fazem toda a espécie de negócios sem qualquer controlo fito-sanitário tanto na entrada como na saída do marisco.
Regressando à contaminação microbiologica dos bivalves da Ria Formosa para lembrar que no Projecto Quasus, o IPIMAR desenvolveu "estudos" entre Outubro e 2010 e Dezembro de 2011, em três zonas Marchil, Marim e Fortaleza, chegando à brilhante conclusão que nenhuma delas estava em classe C, mal se percebendo como vêm, agora dizer que foram realizadas analises durante três anos e que estão na origem da recente reclassificação, o que sugere que o IPIMAR mentiu em todas as intervenções que fez.
Porque interviu a Câmara Municipal de Olhão neste processo? A Câmara é uma das principais responsáveis pela poluição na Ria, dado que foi ela que construiu a célebre ETAR Poente e que em 2005 a entregou à Águas do Algarve. O presidente que fez bandeira eleitoral com a promessa de intentar uma acção judicial contra a Águas do Algarve, aceitou, recentemente, fazer parte do concelho de administração daquela empresa, vendendo-se e vendendo os interesses dos produtores de bivalves. Porque o agora IPMA não fez o trabalho de casa, pondo-se a jeito para ser o alvo de toda e justa censura, entendeu o presidente da Câmara, estarem criadas as condições para desviar as atenções do problema de fundo que é a contaminação microbiologica provocada pelas ETAR.
REVOLTEM-SE, PORRA!
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