De um antigo militante socialista descontente com o rumo que o seu partido tem vindo a percorrer, publicamos na integra e sem comentários, porque desnecessários a carta que nos enviou.
CARTA ABERTA AO PARTIDO SOCIALISTA E AOS CIDADÃOS
Em 25/04/1974 saí à rua, gritei, como tantos e tantas portugueses e portuguesas: “viva a Liberdade, viva o 25 de Abril”-“ VIVA O MOVIMENTO DAS FORÇAS ARMADAS” – ABAIXO A DITADURA, VIVA O SOCIALISMO” – “socialismo sim, ditadura não”!
De 1974 a 1978 aderi a vários movimentos de esquerda socialista, designadamente MÊS e FSP, até que, em 1978 aderi, finalmente ao partido socialista, após alguma reflexão, e porque me identificava com os princípios e os valores que o PS de então defendia para o progresso da sociedade portuguesa. Foram anos conturbados os que se seguiram a 1974, com diversas tentativas de golpes de Estado, uns encapotados, outros mais às claras mas o partido socialista nunca se deixou levar pelas tentações e, com Mário Soares à frente saiu à rua e apelou aos cidadãos deste país que se juntassem para defender a democracia e a tentação de uma esquerda mais radical foi, assim, subjugada pelas vontades quer do PS quer dos milhares de cidadãos que a ela aderiram.
43 anos após o 25 de Abril de 74 e os atuais dirigentes nacionais e regionais do PS parecem fazer tábua rasa dos Princípio e Valores que sempre conduziram o partido socialista.
Da sede nacional são emanadas orientações políticas que rapidamente se transformam em imposições, refiro-me, como é óbvio à designação dos candidatos às câmaras municipais, assembleias municipais e juntas de freguesia de todo o país. As concelhias, órgãos de base democraticamente eleitos são esquecidos, após um trabalho gigantesco que fizeram nos quatro anos anteriores às eleições autárquicas e, sem qualquer tipo de diálogo, sem transparência, sem solidariedade, enfim, sem nada, por assim dizer que sempre caracterizou o PS, impedem-nas de se escolher livre e responsavelmente os candidatos aos diferentes órgãos do seu concelho como determinam os estatutos.
Este tipo de atitudes, arrogantes e prepotentes só encontramos paralelo nos anos idos da “outra senhora”, ou seja, no período áureo do salazarismo, quando Salazar, o então ditador, nomeava os presidentes de câmara de todo o país. Ora o meu PS conseguiu ir ainda mais longe: impôs os candidatos às câmaras municipais, en rotura com as concelhias, impôs ainda os candidatos às assembleias municipais e juntas de freguesia de todo o país e, tudo isto, em nome da defesa dos princípios e valores do partido socialista. Onde estão os princípios e os valores e o respeito pelos órgãos de base quando tudo nos é imposto de forma arbitrária e prepotente? O eu quero, posso e mando nada tem de democrático. Valem-se, assim, da democracia para impor os seus próprios interesses com um desrespeito atroz pelos outros camaradas de partido que se encontram num patamar inferior da escala hierárquica, aqueles que sempre deram a cara em defesa dos valores mais puros e transparentes pelos quais o partido socialista se deveria sempre bater. Nunca terás futuro se renegares o teu passado! Quem eras deve ser quem és e, a partir daqui perspetivar o futuro sem atropelar Princípios e Valores que são a base fundamental da coerência e dignidade humanas.
Isto tudo para dizer que, aqui no concelho de Olhão, distrito de Faro, sim distrito e não Região, infelizmente, porque ela só não passou no Referendo Nacional porque um PS envergonhado da sua vocação histórica fingiu o seu apoio quando na realidade nunca o desejou porque retirava poderes e competências aos senhores de Lisboa bem como à Federação de Faro do partido socialista que a mando de Lisboa avocou o processo autárquico de Olhão, na sua totalidade, sem diálogo e com um desprezo exacerbado pelos órgãos de base legítima e democraticamente eleitos em Olhão devo dizer que, independentemente do resultado eleitoral do próximo dias 01 de Outubro, no concelho de Olhão, já não me revejo nos atuais dirigentes do partido socialista que violaram e que desrespeitaram de forma descarada e inconsequente tudo o que à democracia respeita, bem como aos Princípios e Valores do próprio partido socialista, venho por este meio solicitar a minha demissão, com efeitos imediatos, de inscrito no partido socialista.
Olhão, 29/09/2017
Luís Eduardo Rocha
Militante nr 8370 da Secção de Olhão
1 comentário:
Muito bem Luís. Fossem todos como tu e teríamos um país melhor. Os ditadores apoderaram- se do partido e controlam tudo e todos. Bem hajas.
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