Nas ultimas semanas têm surgido imensas noticias que se inseridas num contexto mais amplo, sugerem a intenção de acabar com a pesca local mas para a qual não têm a coragem suficiente de a assumir. Assumam-no!
O anuncio da concessão de um conjunto de lotes da APA da Armona, até agora sem qualquer utilidade, para a produção de espécies piscícolas, são um exemplo do futuro que reservam aos pescadores da zona.
É por indicação da UE a aposta na aquacultura como forma de assegurar o abastecimento alimentar dos mercados, sem ter em conta as especificidades de cada caso.
Para além das diferenças registadas na amplitude das marés entre a nossa costa e o Mediterrâneo ou do Norte da Europa, temos também as correntes marítimas que na nossa costa chegam a atingir os 6 a 7 nós. Em aquacultura, o peixe é alimentado com rações ou outras espécies de menor valor, representando essa alimentação um elevado encargo. Considerando as correntes, não será muito difícil perceber que aquele alimento será arrastado com alguma facilidade até assentar no fundo, apodrecendo-o. Ou seja, a produção aquicola poderá ter mais encargos aqui do que noutras paragens retirando-lhe a tão apregoada competitividade.
Então porque se insiste neste tipo de produção se à partida está votada ao insucesso?
Em primeiro lugar, porque sendo uma actividade financiada pela UE, o que importa desde logo, é sacar aquele dinheiro, inflacionando os projectos com orçamentos manipulados ou a compra de materiais usados apresentados como novos. Assim, mesmo que não dê nada sempre se arrecadam milhares quando não, milhões, o que não seria caso virgem. No fundo é a satisfação de clientelismos!
Por outro lado, a concessão destas áreas, com uma faixa de protecção, retira à pequena pesca, em especial, o seu mar de trabalho privilegiado. E nesta matéria, devemos acrescentar que os números de postos de trabalho perdidos na pesca são largamente superiores aos criados pelas aquaculturas, razão que deveria constituir uma séria preocupação para quem toma este tipo de decisões, caso contrário, podemos e devemos dizer que o objectivo, é mesmo acabar com a pesca.
Mas nem só as aquaculturas servem para condicionar a actividade piscatória, pois temos ainda o aumento dos ciclos de toxinas nos bivalves que determinam a interdição da sua apanha, reduzindo o tempo de trabalho a 130 dias no ano passado. Como sobrevivem os pescadores cuja fonte de rendimento é esta?
Porque não dizem as autoridades quais as verdadeiras razões da presença de toxinas? É certo que as mesmas existem no meio natural mas não em quantidades suficientes para determinar as constantes interdições. Algo se esconde da classe piscatória porque no fundo o objectivo final é levar ao abandono da actividade.
Curiosamente, a costa da Ria Formosa, particularmente nas áreas de intervenção das capitanias de Faro e Olhão, foi desclassificada para classe B, o que obriga à depuração dos bivalves ali apanhados, como se a conquilha de arrasto suportasse a depuração. Que é isto senão mais uma manobra para levar ao abandono?
Tanto assim é que, e apesar daquela desclassificação, são atribuídas a Bandeira Azul para as praias costeiras. Aparentemente não há qualquer relação entre as duas situações, mas só aparentemente! É que os parâmetros que desclassificam as zonas de apanha de bivalves diz que não podem haver mais de trezentos coliformes fecais enquanto para as aguas balneares, esse limite se situa nos 2000. Ou seja, até por aqui se retira à pesca o que se dá ao turismo.
É evidente que as associações sócio-profissionais do sector têm muitas responsabilidades naquilo que se vem passando, não afrontando o Poder político, estabelecendo mesmo uma teia de cumplicidades vergonhosa.