Segundo o comunicado do IPMA, em https://api.ipma.pt/public-data/snmb_bulletins/0662020-ci_snmb-15_05_2020.pdf, está interdita a apanha de conquilha por conterem biotoxinas, pé de burro e ameijoa branca na Zona L 9, Faro-Tavira, que vai de Quarteira até à Torre de Aires.
Dentro da anormalidade, esta situação passou a ser normal, mas há questões que merecem alguns comentários. É que de Albufeira até Quarteira ou de Tavira a Vila Real de Sº Antonio, não há biotoxinas, as quais só aparecem na Zona L 8.
As biotoxinas existem no meio natural mas não em quantidade suficiente para determinar uma interdição, como aliás se compreende do facto de só nesta zona surgirem. Mas se é assim, porque surgem regularmente nesta zona e especialmente quando se aproxima o Verão?
O concelho de Olhão tem a maior frota de ganchorra, a arte para apanha daqueles bivalves e distribuem-se por toda a zona. Será por isso? Cansar quem vive desta arte até desistirem?
Por outro lado questiona-se a frequência cada vez maior dos surtos de biotoxinas nesta zona, não acontecendo o mesmo nas outras. Ou será que o mau funcionamento das ETAR está na origem disso? Uma coisa é certa, as ETAR não são de facto o melhor modelo, tanto assim que esta zona está classificada de Classe B, pelo que os bivalves aqui apanhados têm de ser submetidos a depuração. Isto para dizer que, contrariamente àquilo que as nossas entidades publicas vêm afirmando, a poluição provocada pela ETAR não se cinge a 400 metros mas mais, muito mais, atingindo a costa.
Significa isto que a poluição das ETAR e dos esgotos directos sem qualquer tratamento vai-se disseminando por áreas mais vastas.
Para quem não está habituado a estas coisas, os nossos entendidos optaram por chamar de sólidos suspensos totais, um nome mais pomposo, à caca que sai das ETAR e esgotos em suspensão nas aguas residuais, que vai decantando em cima dos viveiros, sedimentando aí e contaminando-os. Se por enquanto a situação de completa desclassificação colhe a Zona Olhão 3, daqui a mais uns tempos vamos ver outras zonas serem interditas. É uma questão de tempo!
É evidente que isto não preocupa os nossos eleitos porque eles acabam por ser beneficiados com a situação. De uma forma ou de outra, são pelo menos três os autarcas a tempo inteiro que têm viveiros que eram de ameijoa e passaram a produzir ostras e estas como não se produzem no sedimento mas em cima de mesas feitas em ferro, e que poluem as aguas, acabam por sofrer menos contaminação fecal que os bivalves produzidos na terra.
Matam-se as produções características da Ria Formosa para em seu lugar se introduzir espécies exóticas e proibidas pelo Regulamento do Parque Natural da Ria Formosa.
Por isso, o pessoal da ganchorra, dos viveiros e até simples mariscadores, devem unir-se, organizar-se e lutar por uma Ria mais saudável.
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