O Instituto Portuário e dos Transportes Marítimos sempre foi um empecilho ao desenvolvimento das zonas ribeirinhas, seja em Olhão ou em qualquer outro ponto do país. Não tem a ver com as chefias locais, tem a ver, sim, com a estratégia definida pelos governos que atribuíram excessivo poder a esta entidade. Basta olhar para a náutica de recreio para se perceber o efeito pernicioso deste instituto.
Mas, vamos ao que interessa neste momento. O presidente da Câmara de Olhão já veio mostrar a sua satisfação por lhe ser atribuída mais uma área que vai poder dispor a seu belo prazer e vai daí, já vai dizendo que as instalações, existentes na área do porto de pesca, deverão desaparecer.
A pesca atravessa uma crise enorme. A classe política, começando num ex-primeiro ministro chamado Cavaco Silva, teve oportunidade para pôr alguma racionalidade na pesca. Aquando da adesão de Portugal à CEE, já era prevísivel que a pesca em águas marroquinas teria os seus dias contados. Em lugar de se acautelar o futuro foi-se criando a ilusão de que era possível manter-se uma frota que tanto peso tinha na economia do concelho. Com o fim da pesca em águas marroquinas vieram os abates. Os espanhóis optaram por proceder a sociedades mistas, colocaram barcos na América do Sul, em África, continuaram pescando, enquanto que nós, portugueses optámos pelas demolições. Só que os pescadores tinham de continuar a assegurar a sua sobrevivência. À medida que a frota de Marrocos foi sendo demolida, foi aumentando o número de barcos das ganchorras e dos covos.
Nunca houve a preocupação de cuidar do futuro, de organizar os pescadores para substituírem o sistema intermediário que sempre asfixiou a pesca, de pôr os pescadores a regularem as quantidades a capturar por forma a manterem os stocks. Os intermediários serviam melhor os interesses da Câmara do que os pescadores e não interessava educar os pescadores numa solução alternativa. E, hoje, assistimos a uma concertação de preços e ao controle das capturas de acordo com os interesses de apenas duas ou três pessoas. O leque de opções dos pescadores começa a ficar cada vez mais reduzido. A Docapesca não é alternativa mas a privatização é ainda pior. E a Câmara sabe-o bem. Mas provavelmente a privatização da Docapesca far-se-á para algum seu amigo....
Também, não admira. Já se viu que, a exemplo dos governos centrais, a Câmara funciona quase tipo "cartão do clube". Se é da cor, arranja-se qualquer coisa. Se não é da cor, não tem direito a nada. Que o digam aqueles que abandonaram a CDU e agora estão lá e bem servidos. Independentemente do seu valor, do seu mérito, o que é facto é que se "venderam" politicamente e hoje, eles ou os familiares mais directos começam a ficar todos muito bem instalados. É para colocar os seus "amigos" e não aqueles que mais deram ao partido socialista que esta Câmara tem servido, descurando os pescadores, nomeadamente os da Fuzeta, que apoiavam em massa o P"S".
De eleição em eleição, os partidos candidatos aos destinos das autarquias olhanenses, vão perdendo votos. O P"S" vai consolidando a sua posição apenas porque a oposição é cada vez menor, os partidos da oposição estão desmembrados, o chefe de fila do principal partido da oposição passou de professor a construtor. Sabe-se lá como...........
Fala-se de Museu do Mar, quer-se comemorar uma data que tem a ver com pescadores, a ida ao Brasil, mas a cada dia que passa aqueles que deram razão de ser a esta terra estão cada vez mais abandonados e é bem provável que se vejam despejados do pouco que lhes resta, o porto de pesca.
Triste fado.......................
Sem comentários:
Enviar um comentário