“Hoje a parte moderna, distribuída por alegres e largos bairros, bem iluminada, cintura contra o mar o Olhão velho, dédalo de ruas e becos estreitos e imundos, em que se acotovelam casas brancas dum só piso, com açoteias à mourisca. Nada mais típico que estes bairros, fora do século e do meio português, em que Raul Brandão notou um cheiro persistente a cadáver. Habitados pela população particularmente marítima, é ainda corrente para o forasteiro madrugador cruzar a ombre sans visage, de que apenas se vêem luzir os olhos de azeviche do recesso fundo do bioco. Mas fuja de passear pelo ghetto que vai do Estaleiro ao Campo da Feira, à hora indiscreta dos despejos, que é ao primeiro espreguiçar da doce manhã algarvia. A via pública é o colector máximo.”.
O texto acima, foi publicado em 1927 (“Guia de Portugal II - Estremadura, Alentejo, Algarve” - edição da Biblioteca Nacional de Lisboa)
Ora ai está! Finalmente luz!
Assim já compreendo o porquê daquele cheiro nauseabundo que se sente quando vamos, ou voltamos de Faro de comboio. Não, não é desleixo ou desrespeito pelo meio ambiente e pela saúde e bem-estar dos cidadãos. Meu Deus, como é que eu pude ser tão burra?
O mau cheiro que insistentemente nos agride, e que em dias de muito calor nos obriga a fechar as janelas do comboio, isto sem falar das casas de habitação que por ali há (e não são poucas), não acontece por acaso, tem a ver com o extremo cuidado que a autarquia tem em manter a tradição do mau cheiro. Olhão tem que cheirar mal e pronto. E todos devemos colaborar, é claro. Nada de protestos! Há que compreender e respeitar a tradição.
É também por isso que a Câmara faz circular o carro de recolha de lixo por algumas ruas da baixa da cidade, aí pelas onze horas, mais ou menos, levando assim a que algumas pessoas mais preguiçosas, a partir da hora que mais lhes dá jeito, encham as esquinas dos vizinhos (tipo a minha) com uma multidão de sacos e saquinhos cheios de todo o tipo de lixo sólido, molhado ou encharcado, que por ali ficam á espera que o carro da recolha passe.
Que belíssima ideia. Isto é que é investir na tradição. Para quê andar 50 metros até aos contentores do lixo?
A autarquia está atenta a estes pormenores e zela para que se mantenha a tradição, É de louvar.
Tenho de dedicar mais do meu tempo à investigação da história de Olhão e á maneira de viver do povo olhanense no passado, pois assim encontrarei provavelmente explicação para mais umas quantas situações que se vivem nesta terra e que me fazem confusão. Como eu vivo aqui, e quero continuar a viver, tenho de perceber bem como é que a coisa funciona. Se calhar, há por aí mais uns quantos esquisitos como eu, que pecam por falta de informação histórica. Vamos lá a acalmar, que o nosso problema é falta de cultura.
Cultura... ... Fica para a próxima.
terça-feira, 12 de fevereiro de 2008
A Tradição
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1 comentário:
por esse motivo os hoteis da real marina que estao a construir em olhao,irao ter nao 5estrelas mas 6 sim SEIS uma estrela e devido ao cheirinho,que vai servir de atractivo turistico de olhao .Por esse motivo ja andam espioes de todo o mundo a tentar descobrir a formula de tao agradavel e proveitoso cheirinho.Eu sugeria a esses espioes que nao perdessem tempo e fossem directamente perguntar ao engeheiro (ele e engenhiro nao e?)Leal.
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