O "Pingo Doce" entendeu, o ano passado, que deveria abrir portas no 1º de Maio. Ainda estávamos na era de Sócrates. Este ano voltou à carga e trouxe consigo mais cadeias de distribuição. Não foi só "Pingo Doce". Foi o "Continente", foi a "Pão de Açúcar" e o "Intermarché". Estas cadeias de distribuição representam milhares e milhares de trabalhadores a quem foi negado o direito de "gozarem" o Dia Mundial do Trabalhador, tal como acontecia antes do 25 de Abril de 1974. As pessoas, o Povo, deve compreender que quando nós aceitamos que esses direitos sejam sonegados aos trabalhadores, estamos a abrir a porta para que no amanhã nos retirem a todos nós também.
É vulgar dizer-se que "com o mal dos outros, posso eu bem". O pior é que ao pensarmos assim, ao olharmos só para o nosso umbigo, ao quebrarmos a solidariedade que deve existir entre todos os trabalhadores, estamos simultaneamente a enfraquecer as nossas próprias forças. No amanhã, aqueles que agora não sentiram a solidariedade poderão pensar que também não estão obrigados a essa mesma solidariedade em acções futuras.
O "Pingo Doce" foi mais longe. Numa grande acção de marketing, com descontos muito grandes para os depauperados bolsos dos consumidores, mexeu com os sentimentos mais baixos das pessoas e foi o que se viu. Agressões, insultos, intervenção da polícia para conter os ímpetos de quem queria consumir a preços mais baixos. As pessoas devem aproveitar as oportunidades quando aparecem mas também devem pensar o que está por trás dessas mesmas oportunidades. A manobra do "Pingo Doce" visou unicamente levar as pessoas a aceitarem como sendo positivo trabalhar-se no 1º de Maio. O que todos nós devemos questionar é porque é que o "Pingo Doce" não procede a operações iguais noutras datas, datad que não sejam relevantes para quem trabalha? Duma assentada o "Pingo Doce" levou milhares de portugueses a aceitarem a situação e ao mesmo tempo espezinhava os seus trabalhadores. Este tipo de comportamento deve merecer a mais viva repulsa por parte de todos aqueles que não foram lá e mesmo por parte daqueles que lá foram.
A taxa de desemprego, segundo o Eurostat, já se situa nos 15,3% e ontem, 1º de Maio, o lacaio da neo-nazi Merkl, anunciou aos portugueses que devemos estar preparados para mais desemprego. A competitividade, para esta cambada de proxenetas que nos tem governado, assenta numa coisa que é o custo do trabalho mais baixo. Somos o 4º país da zona euro que o valor médio do trabalho mais baixo, ou seja, o custo do trabalho na zona euro já nos conduziu a uma situação de pobreza em relação aos outros estados membros mas mesmo assim não somos competitivos, dizem eles. Bem, só se o valor do trabalho baixar aos níveis dos países asiáticos. Mas mesmo assim não seremos competitivos, Será preciso aumentar as cargas horárias equiparando-as também aos desses países. Não é com a redução dos custos do trabalho que resolvemos os problemas do crescimento económico e do desemprego. Se os trabalhadores não tiverem dinheiro para consumir são amis as empresas que irão fechar, são mais trabalhadores que ficarão desempregados. A Espanha e a Grécia são bem o exemplo disso.
Quando temos um reformado que recebe 167.000 euros mensais de reforma o que estamos a ver é que um único individuo recebe tanto de pensão como 340 trabalhadores que estão no activo e a quem ainda pretendem dar-lhe cortes e mais cortes. Essa mesma pensão de reforma é correspondente a mais de 5.000 pensões mínimas. Em consciência qual é o trabalhador que pode aceitar isto?
O 1º de Maio é um dia de luta, é um dia para que os trabalhadores manifestarem a sua indignação, para mostrarem a sua discordância às medidas que são adoptadas, para se mobilizarem e acima de tudo para se mobilizarem para combates muito duros se quisermos sobreviver, porque a realidade é que só com palavras não vamos a lado algum...
1 comentário:
Mais uma vez demonstrado que poucos são os fracos, famintos ou sedentos a recusar ou questionar quem lhes dá um bocado de pão, um copo de água...as migalhas que ajudam a minorar o sofrimento.
Os iluminados sabem que em qualquer regime ou ideologia, é tudo uma questão de ter ou não ter poder financeiro para comprar/vergar/submeter a dignidade de muitos.
"Liberdade,Igualdade,Fraternidade"!!??? Se sim, então, escravo bem tratado - NUNCA.
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